Capítulo 9
Chegámos à escola às 13:30. Já só faltava uma aula para o fim do dia. Ninguém nos perguntou onde é que tínhamos estado durante a aula anterior, por isso vou acreditar que os nossos corpos estavam na aula, enquanto as nossas almas e mentes estavam na colónia. Ou qualquer coisa do género. Eu continuava muito quente. Perguntei à Steph como é que ela se sentia e ela disse que também continuava muito fria e… líquida. Apesar de ela preferir o calor e eu o frio, nenhuma de nós estava desconfortável.
Tocou. Fomos para a última aula como se nada tivesse acontecido. Fui tirar o manual da mochila e não achei minimamente estranho ver o quarto livro na mochila. Já me era normal. Mais uma vez ignorei completamente a sua existência. Não disse nada aos meus amigos. Eles iam ficar logo todos stressadinhos e a especular sobre o que seriam os livros, apesar de, provavelmente, não ser nada de especial. Sinceramente, estou mais preocupada com o peso da minha mochila! Apesar do que possa parecer, eu não sou nenhum The Rock! A minha mochila já estava pesada sem aquela livralhada toda, imaginem agora! Bem, depois peço ao meu pai para me levar a mochila, até porque ele se parece mais com o The Rock do que eu, em termos de músculos. Só quero que as aulas acabem! Com alguma sorte os meus pais deixam-me levar os meus amigos lá para casa. Mas duvido. A minha mãe trabalha na estação de polícias até tarde e o meu pai tem um evento qualquer de fisiculturismo, por isso vou ter de ficar sozinha com os meus irmãos. Argh!! Ser a mais nova de 4 irmãos rapazes é horrível. Espero que, pelo menos hoje, eles me deixem em paz. Mas, mais uma vez, duvido.
Fiquei assim, perdida em pensamentos até tocar. Não consegui evitar! Pelo menos desta vez o professor não me perguntou nada. Desci para o recreio com os meus amigos e despedi-me deles no portão. A minha mãe já estava lá à minha espera, com o uniforme e o crachá de chefe da polícia, a mudar a estação da rádio, provavelmente à procura de alguma notícia criminal ou de uma música dos anos 90. O John tinha razão. Logo que a vi soube que ela nunca ouviria o meu nome numa daquelas notícias.
Graças a Deus!
\[
\lll \ggg
\]
— Então Kora, como correu o dia?
Haha!! Calma lá agora! Se eu lhe contar tudo o que aconteceu, não vou conseguir resistir e vou contar tudo ao pormenor e, se assim for, a minha mãe vai achar que eu enlouqueci. Também posso recorrer ao infalível “Foi fixe, não aconteceu nada de mais.” mas estaria a mentir com todos os dentes que tenho na boca, pelo menos na segunda parte. E tendo em conta que a minha mãe é polícia, provavelmente vai descobrir logo que eu estou a mentir. De qualquer forma, não custa tentar.
— Eh, foi fixe. Não aconteceu nada de mais…
— Hum, sei.
Eu avisei.
— Olha, hoje, para variar, já não tenho nada para fazer e como os teus avós vão lá jantar…
— Deixa-me adivinhar! Vais preparar um dos teus famosos “jantares gourmet”?
— Exatamente! - a minha mãe confirmou com um pequeno sorrisinho. O “jantares gourmet” são deliciosos. Mas antes do jantar ainda tenho de descobrir o que é que esteve a acontecer durante o dia e como.
Algo me diz que aquilo está longe de acabar.
\[
\lll \ggg
\]
Quando cheguei a casa, evitei chamar a atenção dos meus irmãos, para tentar ter alguma paz. Fui direta para o meu quarto. Abri a mochila para tirar o estojo e, com ele, caiu um livro com capa lisa e que não tinha nada escrito por dentro. Aproveitei para o usar como um caderno para fazer apontamentos. Tentei pensar em razões para eu e os meus amigos termos viajado para todos aqueles sítios.
Antes de conseguir anotar fosse o que fosse, vi mais um daqueles pontinhos flutuantes. Parecia… velho. Inspirei fundo à medida que ele se ia aproximando.
— Lá vamos nós outra vez…