Capítulo 4

— Acordem seus incompetentes! Argh, Ben, quanto veneno é que puseste na bebida deles?

— 4 colheres, tal como o senhor disse…

— Eu disse 4 colheres a dividir por todos, seu incompetente! Era uma para cada um! Não aprendeste matemática na escola? Os incompetentes dos teus professores não te ensinaram a dividir? Sinceramente! Para que é que eu te fui contratar! Estou rodeado de incompetentes!

Pelo que percebi, o “senhor” gostava muito de dizer “incompetentes”. Eu já estava acordada, mas isso não impediu que me atirassem um balde de água gelada para a cara. Eu ia logo começar a reclamar, mas quando abri os olhos, percebi que era melhor ficar calada. O “senhor” era um homem gigante, com um cinto de pistolas, e, resumidamente, todo vestido à gangster dos anos 50. Podia perfeitamente fazer parte de uma imagem aterrorizadora se não fosse o franganote que estava atrás dele. Essa, era baixo, tinha uns óculos e umas orelhas gigantes e parecia muito um daqueles nerds, filhinho da mamã. Olhei para mim e para os meus amigos e reparei que também estávamos vestidos à gângster dos anos 50.

As duas vozes da minha cabeça começaram a discutir:

“Por favor, que não seja a máfia dos anos 50! Por favor, que não seja a máfia dos anos 50!”

“Tenho a certeza absoluta que estamos na máfia dos anos 50 e é brutal!!”

Calei-as para conseguir prestar atenção ao que me rodeava. Reparei que o rapaz baixinho carregava, numa das mãos, documentos, um estojo e não sei quantos livros. Na outra mão, segurava uma pasta, toda chique, que dizia “Sr. C” a letras douradas. Suponho que o “Sr. C” fosse o homem maior, que provavelmente é o chefe. Mas duvido que o “C” seja de “Chefe”.

— Finalmente acordaram. Ao trabalho, incompetentes!

— Como assim, ao trabalho?? - A Margott e a Steph estavam completamente indignadas.

— O que é que querem dizer com isso? Vocês, seu bando de incompetentes, trabalham para mim!

— Engraçado que há alguns segundos não trabalhávamos para ninguém… - Eu e o John estávamos só confusos.

— Argh! Não tenho tempo para estar a lidar com tanta incompetência. Tenho mais que fazer! Ben, explica-lhes.

— É claro, Sr. C.

— Não me chames isso.

— Peço desculpa, Sr. C.

O “Sr. C” revirou os olhos e saiu. Enquanto isso, o Ben explicou-nos tudo.

— O Sr. Corleone é chefe da máfia italiana, - “Não!!!”, “Brutal!!” - o chefe da vossa máfia, o que faz dele vosso chefe. Estão a acompanhar? - Ele falava connosco como se fossemos uns ignorantes e honestamente, eu agradeço-lhe por isso. - Sim? Ótimo. Então os vossos trabalhos são: - ele tirou uma listinha do bolso e leu - Menina Stephanie, roubar e planear os golpes. Menina Kora, ajudante da menina Stephanie e agente infiltrada. - Não tenho a certeza se fiquei muito satisfeita por ser ajudante da Steph, mas ser agente infiltrada compensou. Apesar de eu não fazer a menor ideia do que isso era… - Menina Margott, responsável pelas armas e tecnologia. Menino John, comandante e condutor. Agora, alguém tem perguntas sobre o seu trabalho?

Duas pessoas levantaram a mão de imediato. Eu e o John.

— Sim, menina Kora?

— Não entendi nada do meu trabalho. Podes explicar-me, por favor?

Ele suspirou e começou o seu discurso:

— Bem, você - “Você?!?” - e a menina Stephanie têm quase o mesmo trabalho. Ambas planeiam os golpes e roubam. A única diferença, é que a menina Stephanie rouba pela sombra, ou seja rouba sem ser vista e a menina Kora - Não acredito que ele me está a tratar pela segunda pessoa do plural, quer dizer, eu só tenho 15 anos, não sou assim tão velha! - rouba escondida à vista de todos. Daí, agente infiltrada. Percebeu agora?

— Sim… Obrigada. - Por alguma razão, eu ainda estava super indignada por ele me ter tratado por “você”, mas estamos na máfia dos anos 50, por isso…

— Sim, menino John?

— Eu tenho duas perguntas. - O Ben acenou, indicando que ele podia prosseguir - Bem, a primeira, é a mesma da Kora: podes, por favor, explicar-me o meu trabalho? Quer dizer, a parte de comandante. Acho que ainda sei o que é um condutor.

Agradeci a Deus por o pai do John ser piloto de carros e motas e o ter ensinado a conduzir ambos.

— O menino John e a menina Margott ficam na carrinha durante os golpes, a não ser que algo corra mal. Nesse caso a menina Margott sai da carrinha e ajuda no que for necessário. - ele aproveitou para explicar o trabalho da Margott também - Só saem da carrinha se for absolutamente necessário. A sua função, menino John, é monitorizar tudo dentro do local do golpe, dizer para onde têm de ir e o que têm de fazer, etc.

— Ok, percebi.

— Já agora - A Steph começou antes do John conseguir acabar. - Quanto é que nós ganhamos?

O Ben olhou para ela, piscou os olhos duas vezes, e disse:

— Comida, roupa e um quarto onde dormir. Não chega?

— Está bem, está bem! Só queria saber…

— Ok, agora a minha segunda pergunta. Alguém me pode explicar, porque raio é que nós estamos acorrentados ao chão?!

Só aí é que reparei que havia correntes a prender a minha cintura e os meus pés ao chão.

— Ah, pois, é claro. Peço desculpa. Esqueci-me de vos tirar as correntes.

Tirou a chave do bolso com um movimento quase imperceptível. Devia ser extremamente bom a tirar coisas dos bolsos das pessoas. Depois de nos desacorrentar, eu fiz questão de confirmar que ainda tinha o dinheiro no bolso de trás e fiquei feliz por ele ter tido a decência de não me ter tirado nada. Além disso, e tendo em conta que estávamos na máfia, eu achei melhor agradecer, antes de levar um tiro na cabeça por má educação. O sorriso que o Ben me lançou só serviu para confirmar que fiz bem.

Depois de desacorrentar toda a gente, continuou o seu discurso.

— Bem, agora que já sabem os vossos trabalhos, vou informar-vos sobre a vossa missão. Hoje, às 21:30, que é daqui a exatamente 1 hora, 23 minutos e 54 segundos, vocês vão roubar a Mansão Mansion…

— Calma, espera lá um segundo! A mansão chama-se “Mansão Mansion”?!

— Sim, algum problema, ou posso continuar?

— Não, tudo bem. Continua…

O Ben parecia irritado e eu murmurei à Margott que ela tinha mesmo de pensar antes de falar, a não ser que quisesse levar um tiro no crânio.

— Continuando, vocês vão roubar um diadema de ouro, com uma esmeralda no meio. Ele é extremamente precioso, por isso devem ter o maior cuidado com ele! Este é o plano…