Capítulo 5
— Oh não! Oh não, não, não! Não acredito! Eu não posso roubar uma casa! Eu não posso ser presa! A minha mãe mata-me! Se ela souber que a sua filha é uma ladra, ela mata-me! Deserda-me!
O John parou a carrinha, agarrou-me pelos ombros, olhou para o fundo da minha alma e disse:
— Kora. Estás a dizer a mesma coisa há já meia hora! E já estamos todos fartos de te ouvir! Por isso eu vou dizer isto, e tu vais prestar muita atenção! Em primeiro lugar, pára de suster a respiração. Respira! Ótimo! Em segundo lugar, não estamos no mundo real. Ok? De alguma forma, nós viajamos para a máfia dos anos 50. No mundo real, eu não consigo fazer uma coca-cola aparecer na minha mão, só por pensar nela. - O John levantou a mão, e provou o seu ponto, ao fazer uma coca-cola aparecer na mão - Kora, nada disto está a acontecer no mundo real! Quando chegares a casa, vais ver a tua mãe e o seu emblema de chefe da polícia e vais perceber que nunca na vida poderias ser uma ladra. Além disso, nós não vamos roubar nada! Ouviste? Vamos aproveitar todo o tempo que temos para ver todas as portas da mansão, tal como fizemos na sede da máfia. Ok? Uma vez disseste “sigam o guião”. Agora digo-te o mesmo: segue o guião. Estamos entendidos?
— Sim. Obrigada…
— Ótimo. Vamos embora, então. Já estamos atrasados.
Eu encostei-me à cadeira do passageiro e respirei fundo. A Steph pôs a mão no meu ombro e disse para eu relaxar. A Margott fez o mesmo e disse que ia ficar tudo bem. Duvidei. Mas agradeci, mesmo assim. 5 minutos depois chegámos à Mansão. A Margott abriu a porta com a alta tecnologia que mais parecia dos anos 3000 do que dos anos 50. Eu e a Steph entramos, a Margott e o John ficaram na carrinha para ter a certeza que o alarme não disparava e que a família Mansion não acordava.
— Separamo-nos aqui. Ok? Se houver algum problema avisa pelo intercomunicador. Está bem? Kora, relaxa.
— Obrigada Steph.
Ela piscou-me o olho e ambas fomos procurar a porta com um sorriso de alívio. Quando já não conseguia vê-la, carreguei no botão do intercomunicador e chamei o John.
— John, estás aí?
— Sim, o que se passa?
— Estou um bocado nervosa, desculpa. Este sítio parece muito uma daquelas mansões abandonadas e dá-me arrepios estar aqui no silêncio.
— Tudo bem. É normal. Queres que te ponha a ouvir música? Assim já não ficas no silêncio.
— Pode ser. Obrigada.
Fiquei a ouvir Metallica, Coldplay e Taylor Swift durante mais de uma hora. Estive à procura da porta certa, a porta que nos tiraria dali, durante mais de uma hora. E quando cheguei a uma certa parte da casa, estaquei. Eu sabia qual era a porta à minha frente, mas era tão mau, que tive de confirmar.
Parei a música e, com ela, talvez o tempo.
— John?
— Estou aqui. Porque é que paraste?
— Qual é a porta que está à minha frente?
— Hummm… Dá-me um segundo.
Ouvi o som de um teclado e a voz da Margott a dizer qualquer coisa imperceptível. O John disse-me aquilo que eu já sabia, mas esperava ser engano:
— É o quarto do Sr. e da Sr.ª Mansion. - Bem, não era engano - Porquê?
— Porque em cima da porta diz “O Portal está do outro lado, e lá terão de chegar. Isto, é claro, se a casa quiserem voltar.”
Silêncio. Durante 5 segundos porque nada dura muito tempo.
— Kora, estamos a ir para aí. Não faças nada enquanto não chegarmos.
— Ok. - mudei a frequência do intercomunicador - Steph, estou em frente à porta do quarto dos Sr. e Srª Mansion…
— Eu ouvi, já estou a ir.
Pouco tempo depois já estávamos todos a olhar para a porta, tentando elaborar um plano. Pelo que o Ben nos disse, o Sr. e a Sr.ª Mansion têm um sono muito leve e acordam facilmente.
— Devíamos entrar e sair. Não demoramos nem 10 segundos, mas se for a porta certa voltamos para a escola, senão, saímos do quarto e fica tudo bem.
— Ok.
— Por mim pode ser.
— Parece-me bem.
— Ótimo. Aos três. 3…
A Margott começou a abrir a porta quando o John a agarrou.
— Então?
— Como assim, então?
Viraram-se para a Steph, que tinha começado a contar.
— Não era para ir aos três?
— Certo. Erro meu. Vamos tentar outra vez. Aos três. Eu conto direito agora. 1… 2… 3…
Todos entramos no quarto, fechamos a porta, abrimos, voltamos a fechar, para ver se éramos levados para a escola, e quando tal não aconteceu, abrimos a porta, saímos e voltamos a fechar. Não demorou mais do que cinco segundos. Não estávamos na escola e os Srs. Mansion não pareciam ter acordado. Mesmo assim, não queria arriscar. Imaginei uma super-cola, daquelas mesmo super, tipo super-cola 3, e colei a porta à parede, ao chão e ao teto. Deixei secar uns 5 segundos e puxei para confirmar. Nem se mexeu. Ótimo. Fomos, desta vez todos juntos, procurar a porta.
— É aquela! - gritou a Margott, apontando para uma porta aberta, com a mesma inscrição de todas as outras. Estava exatamente do outro lado da casa. Claro.
Estávamos quase a chegar à porta quando a ponta de uma arma colada às minhas costas me fez parar.
— Patifes. Invadiram a minha casa e esperavam que eu não fizesse nada? Ah! Queriam! Não se mexam e talvez, talvez eu não vos mate a todos.
Eu não sei o que me deu naquele momento, mas acho que todos os anos de treino que eu supostamente tinha, fizeram efeito. Por isso, segui o guião.
— Corram!
Os meus amigos fizeram o que eu disse e, antes que o homem pudesse disparar, dei um mortal para trás. Consegui bater no cano da pistola, fazendo com que ele disparasse para os seus próprios pés. Desatei a correr, atrás dos meus amigos. Desta vez, era a porta certa, e nós voltamos para a escola.