Capítulo 6

— O que diabos acabou de acontecer?

— Ninguém sabe Margott, ninguém sabe…

— Kora, queres explicar?! Viraste o 007 ou quê??

— Sei lá! Eu só sei que me armei em maluca e de alguma forma consegui fazer um mortal.

— Kora. Desculpa lá todas as vezes que te gozei ou chateei. Tu és incrível. Simplesmente incrível! E eu vou continuar a provocar-te? Com certeza, mas isso não muda o facto de eu te achar maravilhosa e de estar super orgulhosa de ti. E de mim, por ser tua amiga.

— Também te amo, bestie!

Nós estávamos mais do que prontos para continuar a conversar, mas a campainha tocou e arruinou o momento. Só aí é que percebi que o imenso tempo que tínhamos passado nos anos 50/3000 tinha passado muitíssimo mais devagar na escola. O John tinha razão quando disse que aquilo não era o mundo real.

Fomos para a aula. A última coisa que queríamos era ficar de castigo por chegarmos atrasados a uma aula a meio da manhã. Não deixou de ser uma hora de blah, blah, blah, mas desta vez eu passei essa hora a prestar atenção ao professor, até à hora do intervalo.


\[ \lll \ggg \]

— Ok, temos mesmo de falar sobre o que tem acontecido.

— Calma, temos de esperar pela Kora.

— Onde está ela afinal? Já tocou há, tipo… 5 minutos.

Bem, eu estava na sala a examinar o novo livro que tinha aparecido na minha mochila, ao lado dos outros dois que já lá estavam. Este era mais do mesmo. Um livro, com uma capa que ilustrava 3 raparigas e um rapaz, desta vez a chegar a uma mansão de luxo, com dois Ms na porta. Como já era esperado, na contracapa estava resumido exatamente o que se tinha passado comigo e com os meus amigos. Inspecionei este melhor do que tinha feito com os outros. Não encontrei nenhum vestígio anormal para um livro. Vi se a minha mesa, ou a minha mochila tinham mudado em qualquer aspeto, mas estavam exatamente iguais. Desisti de tentar entender o livro e saí da sala. Quando o fiz, já só faltavam dois minutos para tocar.

— Kora! O que é que estiveste a fazer para teres demorado este tempo todo?

— Nada, estive só a ver uma cena na mochila. - Não lhes contei dos livros. Não valia a pena. Tínhamos mais com que nos preocupar e ainda não sabia o que os livros significavam.

— Hum, sei. De qualquer forma, não vamos ter tempo para falar de nada.

— Fazemos assim: muito provavelmente vão acontecer mais coisas nas próximas duas horas antes do almoço. Mais vale esperar até lá e falar de tudo, do que tentar falar todos os intervalos e não falar de nada. - sugeriu o John

— É capaz de ser melhor. - anuiu a Margott

— Sim, sempre é melhor do que ficar cinco mil anos à espera e depois não falar de nada!

Levei logo com uma indireta e um olhar de morte da Steph. E como extremamente madura adolescente de 15 anos que sou, deitei-lhe a língua de fora e fiz cara feia.

Quando tocou nós já estávamos na porta da sala, e mais duas horas de possíveis aventuras esperavam-nos.


\[ \lll \ggg \]

— Graças a Deus tocou para o almoço. Estava a ver que a aula de matemática ia durar para sempre!

— Concordo, Steph! Aquilo nunca mais acabava!

— Bem, agora acabou, por isso vamos lá ao que interessa. O que é que sabemos? - O John pegou numa caneta e num papel que tinha trazido consigo. Diz sempre que isso o ajuda a pensar.

Comecei a enumerar:

— Até agora, sabemos que quando um ponto brilhante aparece no ar, vamos ser levados para um qualquer universo paralelo, e que nesse universo paralelo, tudo o que imaginamos aparece.

— Também sabemos que tudo o que acontece nesse tal “universo paralelo” não afeta em nada o mundo real e sabemos que o tempo lá não passa à mesma velocidade que aqui.

— O… K. E quais foram os sítios para onde fomos?

— Estás a escrever, John?

— Não Margott, ele está a fazer um sapato.

A Rainha da Ironia volta a entrar em ação. O John revirou os olhos cinzentos lindos, suspirou que nem um anjo e disse:

— Sim, Margott, estou a escrever. Assim é mais fácil organizar tudo. Quanto à minha pergunta anterior…?

— Fomos ao Monte Everest e encontramos um Yeti…

— Enfrentamos o apocalipse zombie, numa sala de aula…

— E fizemos parte da máfia italiana dos anos 50/3000.

— Certo. Não vejo nenhuma ligação…

— Bem, talvez haja… Quer dizer, da primeira vez conhecemos um monstro que supostamente não existe, certo? - A Margott é extremamente inteligente, tal como o pai. E agora estava a pôr toda a sua inteligência em prática. - Bem, da segunda vez, também vimos monstros que não deviam existir, e além disso, estivémos no futuro, porque o apocalipse zombie ainda não aconteceu. Mas tem de ser um futuro próximo. Próximo o suficiente para estar tudo igual. Um ano, dois no máximo. Talvez apenas alguns meses, não interessa. Da terceira vez viajamos anos para o passado… Ou para o futuro, não é certo. De qualquer forma, é o mesmo que da outra vez, mas numa escala muito maior. Estão a ver onde quero chegar?

— Sim! De alguma forma, há sempre uma ligação, por muito pouco evidente que seja.

— Exatamente! Se o meu raciocínio estiver certo, da próxima vez vamos viajar para o futuro. Porque se, da última vez, tivermos viajado tanto para o passado como para o futuro, então já viajamos duas vezes para o passado…

— Logo, faz sentido viajarmos para o futuro desta vez.

— Sim. Era incrível se fossemos para quando a Inteligência Artificial governar o mundo.

— Isso é terrível!

— É o máximo!

Estávamos, eu e a Margott, a discutir os prós e contras de ter a Inteligência Artificial a governar o mundo, quando tocou para entrar.

— Já? Caramba, o tempo passa rápido quando estamos a pensar!

Nós rimo-nos. Além de inteligente, a Margott também tem um ótimo sentido de humor e consegue sempre fazer-nos rir.

— É estranho. Até agora, mais nada aconteceu.

— Hum, John? Acho que falaste cedo demais…