Capítulo 8
Caos. Caos era tudo o que me ocorria quando olhava para… qualquer sítio fora da cabana. Parte de mim queria voltar lá para dentro e esperar que acabasse. Mas, por esta altura, eu já tinha feito um mortal para trás pela primeira vez, aniquilado uma turma de zombies, e ensinado um Yeti a falar, não era agora que ia dar parte fraca! Além disso: “Sigam o guião”. Foi o que eu disse, não foi? Pois. Não ia dar parte fraca, mas esperava que no guião dissesse: “E eles usam os seus poderes e derrotam facilmente os robôs. No final, todos saiem ilesos e saudáveis, recuperam o controlo do planeta, comem um grande e delicioso jantar e voltam para casa. Fim!”. No entanto duvidava que fosse isso que dizia. Provavelmente algo como: “Eles descobrem os seus poderes a meio da luta, quase morrem, ficam feridos e traumatizados. Os robôs são derrotados por pouco. A colónia está destruída. Os guerreiros mal conseguem voltar para casa. Fim?”. ARGH!!
Bem, acho que vamos descobrir qual dessas é…
— Como é que nós vamos fazer isto??
— Liguem-se ao vosso espírito…
— De onde diabos é que apareceu, Mãe Natureza?
— … Fechem os olhos e relaxem. Vão sentir os vossos poderes a correrem-vos nas veias. Depois disso, é só usar.
— Podia ter dito isso mais cedo, não acha mãe Natureza?
A Mãe Natureza encolheu os ombros e voltou para dentro da cabana com os seus cinco guardas. Eu continuei sem saber de onde é que ela tinha vindo.
— Para que é que aquela mulher precisa de tantos guardas?
— É outra daquelas perguntas que nunca vai ser respondida.
— Steph, não é o momento.
Ela revirou os olhos. Reparei que a Margott tinha os olhos fechados, provavelmente a tentar encontrar o seu poder. Quando os abriu, estes estavam verdes. Completamente verdes. Incluindo a íris, a pupila e a parte branca dos olhos.
Completamente verdes.
— Façam o que ela disse. É mais fácil do que parece.
Nisto, a terra começou a nascer por baixo dela, levando-a até aos robôs. Robôs esses que ela destruía com plantas gigantes que saíam de debaixo da terra.
O John fechou os olhos. Uns segundos depois abriu-os. Estavam completamente cinzentos. Os pés dele saíram do chão e eu vi um tornado, para já pequeno, que estava a ficar cada vez maior.
— A Margott tem razão. Não é nada difícil.
Eu e a Steph entreolhamo-nos enquanto o John ia ajudar a Margott. Fechámos os olhos ao mesmo tempo. Estava a começar a pensar que desta vez o guião tinha sido simpático connosco. Não surpreendida pela rapidez, ouvi a Steph a deslocar-se e aquilo que pareciam ser ondas. Três dos quatro elementos já estavam a ser usados. Faltava o fogo, que devia ser o meu. Os supostos cinco segundos passaram muito mais devagar do que eu estava à espera. Abri os olhos. Não tinham passado cinco segundos. Eu diria mais cinco minutos. Havia muitos robôs no chão, mas muitos mais a lutar. Percebi que não conseguia encontrar o meu poder e entrei em pânico. Voltei a fechar os olhos e tentei concentrar-me, mas só conseguia ouvir gritos e lutas.
— Kora!
Abri os olhos, mesmo a tempo de ver uns sete robôs a vir na minha direção. Tentei andar para trás, mas as minhas pernas recusaram-se a mexer. Tentei levantar os braços, mas estes estavam pesados. Senti-me a ferver e achei que fosse do tempo. Mas o tempo não podia ter mudado assim tanto em tão pouco tempo, pois não?
Os robôs estavam quase perto o suficiente para me lançar um laser pelo meio da testa. Quando o fizeram, eu recuperei o controlo dos braços e levantei-os para me proteger. Como se ajudasse muito.
Senti-me mais quente do que nunca, como se estivesse dentro do sol. Mas não era propriamente… desconfortável. Abri os braços para ver o que se passava, pois ainda não tinha sido trespassada por um laser.
Vi que os robôs que me cercavam estavam reduzidos a cinzas. Então foi assim que os meus amigos se sentiram quando descobriram os seus poderes. E como, muito provavelmente, se sentem agora. Já derrubamos a maioria dos robôs e os que restavam estavam a cair rapidamente. Ajudei os meus amigos a derrubar os robôs que restavam. No final, reduzi-os todos a cinzas, para serem mais fáceis de “arrumar”. Os cidadãos da colónia fizeram uma festa gigante. Acho que os guiões se misturaram. O início do segundo guião e o final do primeiro. O jantar não foi propriamente um banquete, mas aquela sopa foi a melhor sopa que alguma vez comi. Por favor, não digam à minha avó.
Acabado o jantar, a Mãe Natureza mostrou-nos “uma porta que poderá interessar-nos”. A porta.
Acho que, a esta altura do campeonato, já não tenho de explicar o que aconteceu quando a atravessámos.