Capítulo 4 Fatores Não-Controláveis

4.1 Genética

Sem dúvida genética é um fator importante na resposta do corpo humano ao estímulo dado, não apenas em relação a hipertrofia, mas a qualquer componente fitness. Seja endurance aeróbico, endurance muscular, hipertrofia, flexibilidade, mobilidade, ou qualquer outro. E sem dúvida genética é uma das desculpas mais frequentes para muitas pessoas pararem de praticar determinada atividade física. “Eu tenho genética ‘ruim’. Já treino há 4 semanas e não vi resultados”. Essa é uma queixa bastante frequente entre os mais imediatistas. Se você não está vendo resultado algo está errado. Alimentação, descanso, intensidade, volume de treino, ou você simplesmente não aguardou tempo suficiente para colher os frutos do seu trabalho duro. Pelo menos é isso que diz uma pesquisa realizada pelo School of Kinesiology and Health Studies da Queen’s University em Kingston, Canadá.

Este estudo comparou os resultados de 121 indivíduos sedentários e obesos divididos em três grupos e submetidos a um programa de treinamento aeróbico de 24 semanas:

  • O grupo 1 realizou treinamento aeróbico de “baixo volume” (poucas repetições - pouco tempo de treino) e “baixa intensidade” (esforço - baixo percentual dos batimentos cardíacos máximos ou consumo de oxigênio), caminhando em esteira por 30 minutos, 5 vezes por semana.
  • O grupo 2 realizou treinamento aeróbico com o dobro do volume do grupo 1 (1 hora por dia) e mesmo nível de esforço (baixa intensidade).
  • O grupo 3 realizou um treino de “alto volume” e “alta intensidade” (cerca de 75\(\%\) do consumo máximo de oxigênio – VO2Max).

Os pesquisadores mediram a capacidade aeróbica em cada um dos grupos a cada 4 semanas e perceberam que o número de non-responders (indivíduos que não mostraram nenhuma adaptação ao programa de treino) de todos os três grupos reduzia conforme o estudo prosseguia. No grupo 1 (baixo volume e baixa intensidade) entretanto, o total de indivíduos que não mostraram resposta ao treino alcançaram um platô após oito semanas, com mais de um terço dos pesquisados sem nenhum progresso mesmo ao final das 24 semanas.

Dobrando o volume e mantendo-se a mesma intensidade (grupo 2), a taxa de indivíduos que não responderam ao programa foi reduzido em 17.6\(\%\).

Porém o resultado mais impressionante foi registrado no grupo 3 (alto volume e alta intensidade), onde o número de indivíduos que não responderam ao treinamento submetido caiu para zero ao final das 24 semanas, como mostra o gráfico abaixo.

Os indivíduos foram escolhidos aleatoriamente e nenhum outro fator além do treino e da rotina que cada uma já levava foi modificado, ou seja, a alimentação, rotina, não foram considerados para este estudo. Este estudo foi realizado com treinamento aeróbico, mas uma analogia pode ser feita para qualquer componente fitness: fo rça, hipertrofia, flexibilidade, mobilidade. Se você não está percebendo resultados, ou você não esperou o tempo necessário para notar os resultados ou não está se esforçando o suficiente (volume e intensidade de treino).

4.2 Idade

Sem dúvida quanto mais cedo se inicia uma atividade maior é a probabilidade de se atingir uma alta performance com o passar do tempo de prática. Porém estar mais velho não deve ser um fator desencorajador para que se inicie a prática de qualquer atividade física, muito menos da calistenia. Diariamente vemos postagens das redes sociais de pessoas realizando movimentos aparentemente impossíveis. E com frequência nos pegamos comparando-nos com essas pessoas, porém não levamos em consideração o tempo de prática, as características genéticas, a rotina e a alimentação por trás dessa performance. Cada um tem uma história, uma rotina, experiências que nos levaram a tomar as decisões que tomamos na vida. Costumo comparar nossa vida como um livro que se inicia sendo escrito no dia que nascemos e se encerra quando morremos. Vivemos em um determinado capitulo, o passado já foi escrito e não pode ser mudado. Cada aspecto de nossas vidas é como se fosse um capítulo deste livro, e não é justo com nós mesmos compararmos nosso capitulo 1 com o capítulo 15 de outra pessoa. A comparação deve ser feita apenas com uma pessoa: o EU de ontem.

Para praticar calistenia não é necessário nenhum equipamento (se você não quiser), ou seja, ela pode ser realizada em absolutamente qualquer lugar e se estiver muito frio ou chovendo lá fora, você pode ter um excelente treino em casa mesmo. Portanto ela deve ser vista com algo a longo prazo. Se a jornada vai durar a vida inteira, para quê a pressa? Quanto mais cedo você iniciar, mais cedo você vai perceber os benefícios e resultados. Como a comparação de um livro, o passado não pode ser mudado, e o futuro não pode ser antecipado. Os resultados não poderão ser colhidos antes que se plante, regue e espere o tempo necessário. Mas se você aproveitar o presente, fazer cada treino valer a pena, dar o seu melhor e, o mais importante, aproveitar a jornada, você não vai se preocupar tanto com o final. Enquanto houver progresso e consistência, sempre haverá resultado.

4.3 Rotina (Trabalho/Estudo/Obrigações)

Outra desculpa frequente para que se desista antes mesmo de começar a prática de calistenia é a falta de tempo. Porém todas as pessoas que fizeram a diferença no mundo e mudaram o curso da história com suas descobertas e ideias tinham as mesmas 24 horas que todos temos.

A grande questão é: quais são as minhas prioridades? O cuidado com o corpo (atividade física e alimentação) é, na minha opinião, o que deveria ser a prioridade número 1 de qualquer indivíduo. Afinal, todos nós queremos viver mais, porém não queremos passar os últimos 10 anos das nossas vidas em constantes visitas ao médico ou até mesmo gastar nossos últimos dias na terra em uma maca fria de hospital. Pode parecer duro, mas é a dura verdade.

Nossa rotina é tão corrida que às vezes achamos que nossa vida vai permanecer para sempre como está: jovens, mais ou menos saudáveis, comendo tudo o que queremos, exagerando no consumo de bebida alcoólica, não praticando nenhuma atividade física. Porém o corpo humano tem um prazo de validade. Ele alcança o seu ápice por volta dos 30 anos e daí em diante ele vai perdendo todas as suas funções (se não forem estimuladas além do que o corpo já está acostumado), como: densidade óssea (o que pode levar a osteoporose – doença crônica e degenerativa), massa muscular, força, endurance, função cardiorrespiratória, agilidade, para citar apenas algumas.

A calistenia é uma solução prática para que se desenvolva todas essas funções, e como já foi dito, para que se inicie e mantenha sua prática não se faz necessário nenhum equipamento, apenas conhecimento (o que você vai entender bem melhor ao final deste livro). Para que se colham excelentes resultados, a prática não necessariamente precisa ser longa e diária, durante a maior parte da minha prática de calistenia treinei por apenas 3 vezes por semana, não mais de 45 minutos por dia. Obviamente, quanto mais tempo investido, maiores serão os benefícios colhidos. Mas por mais corrida que seja a rotina de alguém, é possível abrir mão de algo e investir 45 minutos do dia, ou 135 minutos da semana, em algo que vai fazer toda a diferença no futuro. Afinal, o que você faz hoje (com consistência) vai determinar o quanto e o quão bem você vai viver no futuro. Se você exagera no refrigerante, come mal, exagera na bebida alcoólica, dorme poucas horas por noite com frequência, isso vai ter um impacto negativo no futuro. E não é como um veneno que se percebe os efeitos nocivos de imediato, é algo acumulativo, vai juntando ao longo dos anos, enquanto o corpo ainda é jovem e tem forças para lutar contra todos os efeitos nocivos causados por esses fatores, mas mantendo-se essa rotina por 20, 30, 40 ou mais anos, os resultados podem ser catastróficos e causar muita dor e sofrimento, não apenas para o indivíduo, mas para toda a família que sofre junto. Não é à toa que todo nós temos uma experiência trágica de morte na família causada por alguma das doenças que mais matam: câncer, derrames, problemas cardiovasculares, ataques cardíacos, diabetes, hipertensão, etc. Essas são doenças não são contagiosas, e sim relacionadas com o estilo de vida. Há algumas décadas atrás as doenças que mais matavam eram contagiosas, ou seja, se espalhavam pelo ar e pelo contato humano. Porém com o passar dos anos e o avanço da tecnologia essas doenças foram praticamente extintas na maioria dos países do mundo por conta do desenvolvimento de vacinas e tratamentos capazes de curarem tais doenças. Hoje em dia, as doenças que mais matam estão relacionadas com o estilo de vida (alimentação e níveis de atividade física).

Da mesma maneira que maus hábitos têm um efeito cumulativo, piorando aos poucos a vida de alguém, até chegar ao ponto de uma morte prematura e dolorosa, bons hábitos (atividade física regular e alimentação saudável) vão melhorando aos poucos o funcionamento do corpo humano e prevenindo que ele se deteriore rapidamente, retardando os efeitos do envelhecimento, tornando a vida do indivíduo mais prazerosa e independente, até mesmo nos últimos anos de vida.

Embora existam mais fatores que estão fora do nosso controle, irei citar apenas estes três (genética, idade e falta de tempo) por serem as principais desculpas pelas quais as pessoas deixam de se exercitar e se alimentar adequadamente.