Episódio 2 Escolhas profissionais e caminhos acadêmicos

O mundo do trabalho sempre esteve presente na minha vida. Seja por conta das atividades profissionais que meus pais exerciam ou seja pela minha vontade, a partir da adolescência, de ser independente. O trabalho se mostrou como parte natural da minha vida muito cedo, mas não por necessidade. A condição financeira da minha família foi determinante no meu acesso à educação e, caso fosse meu desejo, poderia deixar para ingressar no mundo do trabalho mais tarde. Entretanto, apesar da minha insegurança em relação às minhas competências, assumi a vocação e assim que retornei do intercâmbio nos EUA, comecei a dar aulas de inglês.

Graduação

Escolher a profissão é sempre um desafio, especialmente quando somos muito jovens e associamos a perspectiva do trabalho às disciplinas que cursamos ao longo da educação básica. De fato, eu já tinha uma profissão quando precisei preencher o formulário de inscrição para o vestibular com minhas opções de curso universitário.

Durante muitos anos eu fui apaixonada por biologia, mais especificamente por zoologia, mas não poderia dissecar um animal em laboratório. Entretanto, no ensino médio, fiquei apaixonada por química e física. Cheguei a pensar5 em cursar física básica no ensino superior. Entretanto, e também devido à influência das escolhas profissionais da minha mãe, considerei as engenharias como o caminho profissional mais alinhado com minha vocação. Hoje acredito que todos temos vocação para quaisquer áreas de conhecimento. Basta que estejamos motivados.

Dentre as engenharias, a minha primeira opção seria cursar engenharia química; bem intuitivo. Entretanto, quando ingressei na universidade, em 1997, havia uma recessão econômica que limitava bastante as oportunidades de trabalho para engenheiros. Assim, a minha linha de pensamento foi escolher o curso universitário conforme empregabilidade ou possibilidade de exercer a profissão informalmente. Dentre as diversas opções em engenharia, a engenharia civil pareceu mais versátil para que eu pudesse, eventualmente, ter uma fonte de renda, mesmo que informal.

E foi assim. Fiz vestibular para engenharia civil e fui aprovada na FUMEC, PUCMinas e UFMG. Felizmente, ao ser aprovada nas três instituições, pude escolher e comecei, em fevereiro de 1997, o curso de engenharia civil na UFMG.

Instituto de ciências exatas e laboratórios de topografia foram minha casa durante dois anos, que consolidam o “ciclo básico” das engenharias. Durante esse período eu não consegui explorar a engenharia como profissão. Eram disciplinas nada aplicadas e eu seguia exercendo minha atividade profissional como professora de inglês. Em 1997 consegui uma colocação em uma escola de línguas e, pela primeira vez, tive acesso a um curso de qualificação para exercer o ensino de língua estrangeira. Foi um diferencial naquele momento da minha vida, pois percebi que, apesar de adorar lecionar, havia também muita técnica e processos que potencialmente melhorariam minhas aulas.

Segui lecionando nessa escola por um ano. Após esse período, optei por ministrar aulas particulares e em grupos e consegui manter essa atividade como minha profissão e fonte de renda até o meio do curso de graduação. No sexto período, resolvi investir na minha formação em engenharia e fazer um estágio em uma construtora, para explorar os caminhos que a engenharia civil possibilitava. Fiz estágio em um setor de orçamento de obras e não consegui cumprir meu contrato de seis meses. Pedi desligamento no quinto mês, pois não conseguia me dedicar a fazer as mesmas atividades diariamente durante o mês.

Como meu dia tem apenas 24 horas (às vezes ainda esqueço disso), precisei reduzir minha carga de aulas de inglês e, no sétimo período, consegui uma vaga como bolsista de iniciação científica. O projeto era intitulado “Mobilidade Residencial e Sistema de Transporte na Região Metropolitana de Belo Horizonte” e foi desenvolvido no Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia sob orientação do professor David José Ahouagi Vaz de Magalhães.

Eu aproveitei bastante a minha vida acadêmica no ensino superior. Explorei algumas das oportunidades ofertadas pela universidade pública, me envolvendo em diferentes atividades. Participei de diferentes instâncias da representação estudantil: (i) compus diferentes gestões do Grêmio Estudantil da Engenharia Civil; (ii) envolvi-me em projetos do Diretório Acadêmico das engenharias; (iii) representei o corpo discente em reuniões departamentais e em outros colegiados; (iv) aprendi a me posicionar de maneira adversa ao senso comum nos órgãos colegiados para levar a perspectiva estudantil para a discussão; (v) aprendi como funcionam os departamentos acadêmicos das universidades em seus bastidores.

Além de cursar Engenharia Civil, no oitavo período desse curso, já colaborando formalmente com o projeto de iniciação científica, resolvi experimentar outro curso de graduação. Intuitivamente pensei em letras, mas entendi que não haveria contribuição direta para a minha formação profissional. Resolvi estudar comércio exterior e fiz um vestibular para uma faculdade particular chamada UNA. Fui aprovada e cursei no período noturno um semestre de Comércio Exterior. Não me adaptei à instituição, ao curso e ao contexto e acabei cursando apenas o primeiro semestre.

No dia 08 de Janeiro de 2002 colei grau como Engenheira Civil da UFMG (2.1).6

Formanda

Figura 2.1: Formanda


Pós-Graduação e experiências profissionais e docentes antes do CEFET-MG

Ao final do curso de engenharia, não tive dúvidas de que precisaria aprofundar meus conhecimentos após ter escolhido a área de engenharia de transportes para atuação. Na graduação, as disciplinas dessa área de conhecimento são abrangentes e têm como objetivo apresentar os grandes tópicos que compõe a engenharia de transportes. Infelizmente, em Belo Horizonte, não havia a possibilidade de realizar um mestrado nessa área. Assim, pesquisei alguns programas, coletei algumas informações sobre como montar um pré-projeto de pesquisa e fiz a inscrição nos programas da Universidade de São Paulo (USP)-São Carlos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto Militar de Engenharia (IME). A inscrição na UFRJ e no IME foi presencial e, naquele momento, me decidi pelo IME. A escolha não foi fundamentada essencialmente devido à qualidade do curso, mas devido à localização do IME em comparação com o Campus da UFRJ na ilha do Fundão. A localização já se manifestava como instrumento de decisão na minha vida.

Fui aprovada nos três programas e decidi ir para o Rio de Janeiro, me matriculando no IME. O principal fator para escolha do Rio e não de São Carlos estava relacionado ao coração ❤️7, e a distância entre Belo Horizonte e as respectivas cidades foi decisiva.

Cresci acreditando que as pessoas conseguem conquistar bens materiais e status por meio de esforço e mérito individual. Acreditava que a possibilidade de gerar valor para as empresas era o que diferenciava um bom engenheiro de um mau profissional. Assim, evitando olhar para o público, direcionei o meu projeto de mestrado para o transporte de cargas, entendendo, naquele momento, que estaria isenta de decisões públicas interferindo no meu projeto acadêmico e na minha atividade profissional8.

2003 foi um ano cheio de mudanças. Mudanças de emprego, de casa e de objetivos. Após cumprir os créditos básicos no IME, resolvi trancar o curso e voltar para Belo Horizonte. Como não conseguia ficar sem trabalhar, busquei estágio na empresa-referência em consultoria de transportes em BH naquela época: o grupo Tectran. Bati na porta do escritório da Tectran, com meu singelo currículo embaixo do braço e perguntei se tinham alguma vaga para mim. Acharam estranha essa abordagem, mas coloquei-me à disposição inclusive para estagiar como mestranda na empresa e me fizeram a proposta de trabalhar como estagiária recebendo remuneração equivalente àquela da bolsa de mestrado da época. Foi maravilhoso. Ramon Vitor César foi o meu chefe-imediato e as atividades que eu desenvolvia já estavam relacionadas a Sistemas de Informações Geográficas, anos antes de pensar em me tornar geógrafa. Ramón teve também uma participação importante nos caminhos para decisão de onde cursar doutorado ❤️.

A equipe era acolhedora e, como o grupo ainda era pequeno, tive a oportunidade de colaborar com projetos em diferentes áreas e de, efetivamente, aprender a trabalhar. Essa foi efetivamente a minha primeira experiência profissional como engenheira e adorei! Adorei não fazer a mesma coisa todos os dias, adorei eventualmente estudar para propor algum caminho metodológico para os projetos e de efetivamente concluir etapas ao longo da vida profissional.

Ainda em 2003, em meio às atividades de consultoria, consegui uma colocação, para atuar como professora na Faculdade Novos Horizonte. Curiosamente, a maior parte dos estudantes eram mais velhes do que eu. Lecionei Logística, Gestão de Transportes e Administração de recursos materiais e patrimoniais.

Entrei na Vale em setembro de 2003, após um longo processo seletivo para um programa de Trainee em Engenharia Ferroviária. A “etapa mais difícil do processo seletivo” foi pedir demissão da minha posição de estagiária na Tectran. Tinha aprendido tanto e nutria afeto pelas pessoas e pelo acolhimento recebido. Mas a vida segue e me desligar daquela posição não era fechar portas; mas buscar novas experiências.

Foi curioso que, durante o processo seletivo, passei por dois gerentes gerais na entrevista final. O primeiro a me entrevistar identificou minha inaptidão a participar de rotinas e, portanto, a trabalhar na operação das ferrovias. O que não é rotina na operação ferroviária, torna-se problema e se tem alguma coisa que me deixa demostivada é resolver problemas que poderiam ser evitados com devido planejamento! O primeiro gerente a me entrevistar me encaminhou para o segundo e o resultado foi que fui a única “Engenheira Ferroviária” que não estava lotada na Diretoria de Operações. Fui alocada em uma área de estudos operacionais sob a Diretoria de Planejamento. Essa decisão dos gestores foi muito assertiva e alinhada com o meu potencial de contribuição para a empresa.

Assumimos na Vale, eu e meus coleges e amiges Engenheires Ferroviáries, no dia 15 de setembro de 2003. Entramos na primeira edição do programa de trainee “Engenheiro Ferroviário,” cujo objetivo era capacitar jovens talentos para atuar no mercado ferroviário. Por anos não houve investimento no Brasil em mão de obra para operação e gestão de ferrovias. Assim, fez necessário que as operadoras investissem em qualificação, como ainda hoje é realidade nesse setor.

Foram três meses de aulas e muita aprendizagem e de viagens, companheirismo e construção de novas amizades. Essa capacitação aconteceu em imersão no saudoso Othon Palace Hotel de Belo Horizonte e, posteriormente, viajamos 15 dias visitando as diferentes instalações ferroviárias da Vale nas ferrovias Estrada de Ferro Vitória a Minas, Estrada de Ferro Carajás e Ferrovia Centro Atlântica. Felizmente, durante o treinamento, fiquei em casa (assuntos do coração são fortes!) e frequentei as aulas diariamente no Othon.

Engenheiros Ferroviários

Figura 2.2: Engenheiros Ferroviários

Desenvolvi um projeto de conclusão de curso intitulado “Análise do Aumento de Confiabilidade das Locomotivas da Rota do Grão a Partir da Implantação do Novo Quadro de Tração da FCA,” sob orientação do meu gerente à época, Leonardo Dallorto. Foi um grande desafio explorar a coordenação entre condições operacionais dos componentes ferroviários e a manutenção desses componentes. O intervalo temporal entre a sobrecarga e o evento de falha desses componentes é um grande desafio metodológico.

Ao longo do desenvolvimento desse projeto, eu também colaborava com outros projetos internos de melhoria, trabalhando com simuladores de dinâmica ferroviária e avaliação de intervenções operacionais e investimentos. Eu respirava engenharia econômica e até alguns restaurantes no entorno do prédio da Rede Ferroviária Federal, no bairro Floresta em Belo Horizonte, foram apelidados pela equipe como VPL (valor presente líquido), por apresentarem um ótimo custo-benefício. Aprendi que a qualidade do meu trabalho é diretamente proporcional ao tempo que tenho para fazê-lo. Tive que aprender a controlar a vontade de fazer melhor, pois os prazos não eram flexíveis e a entrega tinha que acontecer. Aprendi também que a Vale era orientada à remuneração de capital, apesar de permeada por processos decisórios exclusivamente fundamentados em disputas de poder do mercado e da capacidade política. Descobri também que princípios, valores, compromisso ético, a qualidade técnica da engenharia e até mesmo as situações de risco podem ser flexibilizadas se promoverem remuneração do capital do acionista.

Alguns meses depois, houve, durante uma das muitas reestruturações gerenciais, a minha alocação para a área de planejamento ferroviário (longo e médio prazos). Essa área era a interface entre as funções comerciais e operacionais da ferrovia e trabalhávamos organizando os fluxos a serem realizados nos horizontes mensal e anual. Foi maravilhoso entender um pouco mais sobre o sistema ferroviário como serviço e me tornar uma das pessoas responsáveis pelo dimensionamento de vagões, locomotivas e o arranjo dos trens com todas as restrições que sistema ferroviário brasileiro apresenta. Fui responsável pela coordenação de dados obtidos a partir de diferentes ERPs (Enterprise Resource Planning) que eram diferentes para cada ferrovia. Recebia ainda dados das áreas de manutenção de material rodante e via permanente. Consolidando e coordenando as informações, gerávamos um instrumento denominado Book PPC (planejamento, programação e controle) que era um conjunto de planilhas com indicadores de desempenho ferroviários. Aquele documento era encaminhado para toda a Diretoria de Logística visando acompanhamento de metas e resultados, nas diferentes dimensões mensuráveis. Mais tarde, com as necessidades advindas das atividades de pesquisa, esse conhecimento foi útil no entendimento dos conceitos de Business Analytics e Urban Analytics.

Ainda na Vale, segui desenvolvendo minha dissertação, que foi defendida no dia 02 de agosto de 2004. Intitulada “Modelo Neuro-Fuzzy para Escolha Modal no Transporte de Cargas,” foi desenvolvida por mim, sob orientação do Prof. Marcus Vinícius Quintella Cury. Participaram da banca os professores Maria Cristina Fogliatti de Sinay, Maria Augusta Soares Machado e David José Ahouagi Vaz Magalhães.

O trabalho teve como proposta a implementação de um método fundamentado em lógica fuzzy e redes neurais para suporte à decisão na escolha modal do transporte de cargas. A escolha modal é um processo decisório que visa o atendimento do nível de serviço demandado pelos clientes, estabelecendo um trade-off entre os custos logísticos e a qualidade do atendimento. Os atributos intervenientes nesse processo decisório não são apenas objetivos, envolvendo também parâmetros subjetivos, como a confiabilidade e a segurança das opções modais disponíveis. Explorando métodos para suporte à decisão na escolha modal, me senti pouco confortável em desprezar a subjetividade do processo decisório considerando métodos de otimização. Entretanto, devido à minha pouca maturidade científica, foquei no método e não no problema para desenhar o tema da dissertação. Assim, me deparei com a tecnologia Neuro-Fuzzy que possibilitava a convergência de informações quantitativas e qualitativas para apoio ao processo decisório, com a vantagem de trabalhar a informação sem que haja perda da subjetividade. Por fim, o objetivo desse trabalho acabou sendo propor um método para escolha modal, com base em informações quantitativas e também nas avaliações qualitativas de especialistas, utilizando-se a tecnologia Neuro-Fuzzy. Fechei essa etapa, sem a alegria que tenho hoje como pesquisadora. Pensava, inclusive, que nunca existiria uma Renata-pesquisadora.

O ambiente corporativo e a rotina do trabalho me fizeram repensar minha permanência na Vale. Em 2005 decidi pedir desligamento e recuperar minhas atividades docentes. Durante meu período na Vale, de setembro de 2003 a maio de 2005, não consegui coordenar minhas atividades como docente e, portanto, solicitei suspensão do meu contrato na Faculdade Novos Horizontes e fiquei até 2005 vinculada à instituição, mas sem lecionar. Mais uma vez sou grata pela confiança e pela oportunidade de obter experiência na docência no ensino superior que esta instituição me proporcionou.

Em 2005, após desligamento da Vale, lecionei em faculdades particulares em cursos de administração e como professora substituta de volta ao Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da UFMG. As faculdades particulares - FUNCESI - Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira e Faculdade Novos Horizontes. Foram oportunidades únicas, pois conseguir colocações profissionais sem experiência é muito difícil, dificultando as oportunidades para a construção de experiências. É o ciclo perverso do início da carreira de qualquer jovem. Nessas universidades lecionei disciplinas relacionadas à gestão das operações e à aplicação de métodos quantitativos, como administração da produção, da qualidade e logística. Essas disciplinas estavam relacionadas com minha formação básica na engenharia civil e minha especialização em engenharia de transportes. A experiência com a gestão corporativa na Vale me ajudou muito, me possibilitando contextualizar os processos e problemas que os estudantes encaravam em suas atividades profissionais no dia a dia.

Em 2005 também fui professora substituta na UFMG, e enfrentei um desafio profissional que tinha um peso emocional para mim. O professor Baeta precisou se aposentar por idade e eu assumiria seu lugar. Ele tinha sido meu professor anos antes e, como sempre, foi muito solícito ao fazer um processo suave de transição das disciplinas para mim. Entretanto, eu me sentia mal por assumir seu lugar, sendo que ele ainda gostaria de exercer a docência. Eu também discordava de algumas práticas em sala de aula adotadas por ele quando estudante e queria fazer diferente. Mais uma vez passava por uma situação que demandava imposição da docente à frente dos processos no lugar de uma submissão aos processos já instalados. Posicionar-me, até hoje, é um desafio emocional para mim.

Em 2006, ingressei no CEFET-MG como professora efetiva9. Durante os primeiros anos no CEFET-MG, não existia nenhuma fagulha acessa dentro de mim indicando que um dia me tornaria pesquisadora e que, para isso, seria muito importante o processo de doutoramento. Entretanto, institucionalmente, o título de Doutora se fazia necessário.

A decisão de cursar o doutorado no programa de Geografia da PUCMinas teve muito coração envolvido e o objetivo central de reduzir distâncias. Coração para decidir não buscar programas fora de Belo Horizonte; coração apaixonado pela Geografia; coração batendo fora do peito10.

Decidi começar devagar e conhecer esse campo do conhecimento para entender se ali havia possibilidades para eu incrementar minha formação em transportes. Em 2010, com Sofia, minha primeira filha, com 3 meses, me inscrevi na disciplina isolada “Evolução do Pensamento Geográfico.” Existem pessoas que quando passam por nossas vidas deixam marcas indeléveis. Uma delas foi o professor Oswaldo Bueno Amorim Filho. Professor Oswaldo conseguiu tecer o raciocínio e coordenar a imensidão conceitual e temporal que são as múltiplas geografias de maneira brilhante. Não tive como não me apaixonar pelas infinitas possibilidades e caminhos epistemológicos, por vezes ontológicos, de explorar fenômenos físicos e humanos. Ali nascia a geógrafa que escreve esse memorial. Isso mesmo: GEÓGRAFA.

No final de 2010 participei do processo seletivo do doutorado e ingressei formalmente nesse mundo de novos horizontes e perspectivas. Na escolha do orientador, me encaminharam para um professor com trabalhos bem quantitativos e funcionalistas, afinal, eu vinha da engenharia. Entretanto, optei por buscar um orientador que contribuísse para minha formação com novas perspectivas, me levando a compreender as implicações dos estudos geográficos e seus desafios. Foi quando conversei com o professor Alexandre Magno Alves Diniz. Além de excelente profissional, cuja área de especialização estava alinhada às minhas pretensões de trabalhar com a geografia dos transportes, é uma pessoa humana, gentil e disponível.

Nos anos seguintes cursei as disciplinas obrigatórias da linha de pesquisa em geografia humana, com ênfase na geografia urbana. Foi um tempo significativo entre o meu ingresso no programa e a definição da problemática de pesquisa. Precisei fazer 48 créditos para poder cumprir o mínimo requisito para a titulação como doutora. Parece muito, mas, apesar dos dois anos cursando disciplinas, eu gostaria de mais 🙃.

No início de 2013 meu marido (mais uma vez a ideia de reduzir distâncias predomina nas minhas decisões pessoais, acadêmicas e profissionais) conseguiu uma bolsa de seis meses na Université de Lyon para desenvolver a parte experimental de sua pesquisa. Havia bolsas disponíveis na PUCMinas para doutorado sanduíche e consegui também um programa para que pudéssemos caminhar juntos nessa jornada. No final de junho de 2013 desembarcamos, eu, Patrick, Sofia, João e minha mãe no aeroporto Saint Exupéry. Muita apreensão, novidades e desapegos. Atravessar o Atlântico com um bebê de seis meses e uma criança de 3 anos já seria uma aventura. Atravessa o Atlântico com os pequenos para morar por seis meses era uma enorme aventura com um pouco de loucura. Minha mãe foi conosco para que fosse possível trabalharmos e, ao mesmo tempo, prover cuidados ao João. Sem ela, essa aventura não teria sido possível!11 Nos acomodamos em um hotel de maneira provisória até que encontrássemos uma moradia para nossa estadia. Mais uma vez, a decisão passou por um equilíbrio entre distâncias para que a localização do nosso lar fosse o mais central possível em relação aos nossos laboratórios e à vida cotidiana das crianças e de minha mãe. Curiosamente Patrick precisava se deslocar para o extremo nordeste da região de Lyon e eu para o extremo sudeste. Experiências fantásticas foram apreendidas ao viver em uma cidade desconhecida, com desafios locacionais e culturais, mas sem impedâncias para o deslocamento das pessoas. Não precisamos de automóvel individual para exercer nenhuma das funções cotidianas. As estações do metrô, o acesso aos ônibus articulados, a confiabilidade nas tabelas de horários dos sistemas e até mesmo a tarifa eram acessíveis. População em situação de vulnerabilidade, famílias com muitos filhos e outros grupos específicos contavam com subsídios públicos proporcionais às suas necessidades. Quem pode mais, paga mais. Quem pode menos, paga menos.

Fui recebida no Institut Rhônealpin des Systèmes Complexes (IXXI) pelo professor Pablo Jensen. Foi uma experiência incrível ver como os laboratórios de pesquisa na França têm autonomia na estrutura das universidades e porque os físicos do IXXI trabalham com cidades seguiu como um mistério para mim durante um tempo. Nada na vida acontece por acaso. Algum tempo mais tarde, entendi o quão interessante é a aplicação de sistemas complexos, usualmente trabalhada em ciências de base, como a física e a química, para entendimento de problemas sociais. Foi uma pena eu não ter essa maturidade enquanto presente no IXXI, mas esse estágio foi importante para eu perceber a possibilidade de utilizar o conhecimento dessa área como pesquisadora.

Na virada do ano de 2013 para 2014 chegamos ao Brasil. Em casa, segui desenvolvendo meu trabalho de doutorado e no dia 20 de agosto de 2015 defendi minha tese intitulada "Análise Espacial dos Preços de Produtos Alimentícios no Varejo de Belo Horizonte e sua relação com a renda média da população. Como já citado, o professor Alexandre Magno Alves Diniz foi o orientador deste trabalho. Fizeram parte da banca de avaliação os professores Sandro Laudares, Ana Márcia Moreira Alvim, Leise Kelli de Oliveira e Karla Albuquerque de Vasconcelos Borges.

Um fato curioso deste trabalho está nos agradecimentos da minha tese: “Agradeço à Galinha Pintadinha, à Turma do Cocoricó, ao Discovery Kids e às demais formas de entretenimento infantil que colaboraram direta ou indiretamente para que meus filhotes pudessem se divertir enquanto eu trabalhava na elaboração deste documento.” Acho que os agradecimentos dispensam comentários 😂.

Doutora Renata

Figura 2.3: Doutora Renata

Hoje, revisitando meu trabalho de doutorado, fico feliz por ver que naquele contexto eu já discutia as desigualdades espaciais e as iniquidades sociais considerando o acesso a produtos de baixa ordem, em especial, a alimentos. Discuti a heterogeneidade espacial relacionada a atributos socioeconômicos e demográficos da população que reside nas vizinhanças onde os estabelecimentos comerciais estão localizados. O objetivo central daquele estudo foi identificar possíveis relações entre a renda da população e os preços de alimentos de primeira necessidade praticados em diferentes escalas varejistas: mercados locais, supermercados e hipermercados.

Para tanto, foi realizado um levantamento de dados secundários que subsidiou a determinação de uma amostra de pontos de varejos que foram visitados. Nestes pontos, os preços de uma lista de nove produtos alimentícios de primeira necessidade foram levantados, gerando um banco de dados que foi espacialmente processado, ponderado segundo uma composição de áreas e seguindo o conceito do decaimento da distância em relação às áreas de influência determinadas para cada estabelecimento comercial. Foi ainda determinada a variável rendimento médio mensal domiciliar para a mesma unidade espacial considerada como referência para os preços, gerada por meio de polígonos de Thiessen para os estabelecimentos comerciais de menor porte. Considerando-se as variáveis renda e preço espacializadas foram realizadas análises de regressão ordinárias, tomando a renda como variável explicativa e o preço como variável resposta. Identificou-se forte autocorrelação espacial dos resíduos, o que indicou a necessidade de exploração das relações das variáveis por meio de métodos locais/espaciais. Foi feita então uma análise de regressão geograficamente ponderada. Os resultados indicaram um melhor ajuste dos modelos locais para os diversos produtos pesquisados e para a respectiva cesta de produtos. De forma geral, identificou-se uma predominância de variação positiva entre a renda e o preço, o que indica que, para a maior parte dos produtos e na maior parte das áreas do município, quanto maior a renda da população locais, maiores os preços praticados pelo comércio varejista de alimentos de primeira necessidade em sua vizinhança.

Foi um resultado que refutou a minha hipótese inicial de que pessoas de baixa renda pagam preços mais elevados por produtos e alimentos essenciais, mas, dessa vez, fiquei muito feliz com o resultado do meu trabalho.


O nascimento da Renata-pesquisadora

No dia 19/05/2017 formalizei meu credenciamento no Programa de Pós-graduação em Geotecnia e Transportes (PPGGT) da UFMG. O programa precisava da participação de mais docentes e, caso eu quisesse progredir na minha carreira de pesquisadora, precisaria desse espaço. Fui acolhida pela Profa. Leise Kelli de Oliveira, que me apresentou institucionalmente ao mundo da pesquisa acadêmica. Fomos parceiras por um tempo, mas aos poucos fui construindo minha identidade de pesquisadora e nossos caminhos se distanciaram.

A primeira disciplina que lecionei no PPGGT foi Geografia dos Transportes. Foi um sonho. Uma energia maravilhosa da turma ao entender condicionantes da engenharia que estão diretamente relacionadas à localização das atividades, à estrutura morfológica das cidades e regiões, à interação espacial como fato gerador da demanda por transportes e os conceitos de acessibilidade.

Lecionei também uma disciplina de Planejamento de Transportes e tentei fazer uma abordagem sob perspectivas crítica e prática, desenvolvendo projetos integradores ao longo da disciplina, baseados em problemas incrementais.

A atuação na UFMG é muito gratificante. Excelentes estudantes e pesquisadores em formação e autonomia para desenvolvimento dos projetos de pesquisa e dos trabalhos acadêmicos. Entretanto, a UFMG, apesar de ter sido meu berço acadêmico, não é minha casa. É muito difícil manter-me efetivamente colaborativa ao programa com a distância institucional. Tentei algumas vezes coordenar os trabalhos de alunos bolsistas de iniciação científica do CEFET-MG com alunos do mestrado PPPGT, mas a distância física também era um limitador para essa interação. Talvez, a partir das nossas experiências no contexto remoto, poderemos viabilizar com mais assertividade a estruturação de uma rede de suporte e a coordenação do desenvolvimento dos projetos de pesquisa. Mais uma vez, a distância determina minhas escolhas. De forma mais pragmática, atuar no PPGGT é um exercício de desapego, pois apesar de UFMG e CEFET-MG serem duas instituições de ensino superior federais, não há cessão dos docentes para atribuição dos encargos acadêmicos de maneira colaborativa. Assim, para o CEFET-MG, essa atividade no PPGGT torna-se um encargo adicional eletivo para o docente, não sendo contabilizado nas apurações de atividades acadêmicas do docente formalmente. Acredito que ainda tenhamos um longo caminho até que possamos efetivamente entender que sem colaboração, não conseguimos produzir conhecimento.

Em 31/07/2021 encerra-se meu credenciamento no PPGGT. É o fechamento de um longo ciclo de idas e vindas na UFMG. Segue sendo meu berço acadêmico, mas preciso caminhar e o CEFET-MG é uma instituição que precisa do meu trabalho dedicado e que possibilita esse trabalho com uma série de incentivos.

Agradeço meus estudantes nesse período. Pela paciência, pela colaboração, pelas discussões e pelo aprendizado. Agradeço nominalmente cada estudante que desenvolveu seu trabalho sob minha orientação:

  • Clarissa Pontes Melo - Análise da macroacessibilidade de pedestres idosos sob a ótica da qualidade do espaço urbano. 2021.

  • André Augusto Cunha Libânio - Avaliação da acessibilidade em cidades brasileiras. 2020.

  • Paulo Henrique Góes Pinto - Identificação e qualificação de centralidades urbanas por meio de estrutura morfológico-funcional: um estudo de caso para a RMBH. 2020.

  • José Moreira Gonçalves - Atração de Viagens de Carga em Indústria Automobilística de Máquinas Agrícolas e Rodoviárias. 2019.

  • Gabriela Pereira Lopes - Uma Análise da Localização de Instalações Logísticas versus Geração de Viagens e os Impactos na mobilidade urbana em Belo Horizonte. 2018.

Em 2020 credenciei-me no Programa de Pós-Graduação em Administração do CEFET-MG (PPGA). A priori solicitei credenciamento como colaboradora, mas, prontamente, fui credenciada como docente do núcleo permanente do programa. O programa tem como área de concentração Processos e sistemas decisórios em arranjos organizacionais. Muito do que faço como pesquisa hoje e tenho feito ao longo do tempo está relacionado com processos decisórios.

Estou orientando a estudante Sofia Eleutério que desenvolve um trabalho sobre a eficácia de faixas exclusivas de ônibus como política pública. Está sendo muito gratificante discutir os mesmos problemas sob diferentes perspectivas.

Estou no colegiado do PPGA para colaborar com a estrutura administrativa e acadêmica do programa e para aprender como são as regras, demandas e desafios dos programas de pós-graduação no Brasil. É muito trabalho, mas também muita aprendizagem.

Tenho investido bastante no processo de internacionalização das minhas atividades como pesquisadora. Desde 2015 tenho participado de conferências no exterior e de redes de pesquisa.

Ainda que eu discorde da dissociação entre pesquisa e extensão, tenho tentado especificar projetos com foco na transferência tecnológica e na difusão de conhecimento para a sociedade. Dentre eles, cito três que foram experiências muito bacanas: (i) colaboração com a Horta da Cidade no planejamento da entrega das hortaliças; (ii) plano de mobilidade de Paraíso do Tocantins; e (iii) organização do I Fórum Brasileiro de Logística Urbana.

O primeiro projeto foi especial pois refere-se ao suporte técnico à Horta da Cidade, cujo negócio é orientado à produção de hortaliças orgânicas em terrenos ociosos nas áreas urbanas. Nessa colaboração, tive a oportunidade inclusive de participar de eventos de aceleração de negócios junto ao SEBRAE-MG, como na foto a seguir.

Evento no SEBRAE da Horta da Cidade

Figura 2.4: Evento no SEBRAE da Horta da Cidade

A segunda ação de extensão foi a participação da elaboração do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável de Paraíso do Tocantins, proveniente de parceria firmada entre a UFT e a Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicas da Prefeitura Municipal de Paraíso do Tocantins. O objetivo desse plano foi definir ações estratégicas para se alcançar o cenário de mobilidade urbana desejado para a cidade, em conformidade com a Política Nacional de Mobilidade Urbana. Fui convidada para colaborar com esse projeto no desenvolvimento de estudos urbanos orientados à acessibilidade para inclusão desse paradigma no diagnóstico e propostas de intervenções. Foi a minha primeira oportunidade de aplicar diretamente medidas de acessibilidade no planejamento e a equipe de trabalho foi maravilhosa!

A terceira ação está mais alinhada com a proposta de difusão do conhecimento científico e é um dos exemplos de iniciativas com as quais tenho me envolvido. Essa ação foi a organização do I Fórum Brasileiro de Logística Urbana, fruto de uma parceria entre a UFMG, o CEFET-MG e a UFT. Como resultado do evento, além de toda a discussão riquíssima, tivemos um livro publicado

I Fórum Brasileiro de Logística Urbana

Figura 2.5: I Fórum Brasileiro de Logística Urbana

Outras ações de difusão de conhecimento que tenho feito são a participação de comitês técnicos e eventos promovidos pela gestão pública municipal e metropolitana como como os Fóruns de Logística Urbana promovidos pela prefeitura de Belo Horizonte e, mais recentemente, o comitê técnico de Mobilidade da RMBH. Ações como essas são um dos objetivos que estão na agenda para os próximos anos e a minha participação como co-tutora no Programa de Educação Tutorial da Adminstração tem muita relação com esse desejo.

Ainda como pesquisadora, tenho colaborado com diferentes periódicos, nacionais e internacionais, como revisora ad hoc. Dentre eles, a revista Transportes, IEEE Access, Sustainable Cities and Society, Research in Transportation Economics, Transportation Research Record e Urban Rail Transit. Hoje faço parte do corpo editorial das revistas Caderno de geografia e da Revista Brasileira de Transportes.

Tenho participado de bancas de avaliação de trabalhos de conclusão de Doutorado, Mestrado, Especialização e graduação. O escopo geográfico dessa participação é bastante amplo, mas ainda restrito ao Brasil. Dentre eles, estão o Programa de Pós-Graduação em Modelagem Matemática e Computacional do CEFET-MG, o curso de engenharia civil da UFT, o programa de pós-graduação em Engenharia de Transportes da UFC, o curso de engenharia de produção da UFSCar - Sorocaba e o Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção do Campus Sorocaba, também da UFSCar.

Acredito muito na internacionalização para que seja possível instituir parcerias não só de pesquisa, mas também de ensino. Tenho participado das iniciativas institucionais de formação dos docentes em English as a medium of instruction, concluindo uma capacitação de 40 horas em julho de 2020, de conferências internacionais, como:

  • 4th VREF Conference. Relationships among urban characteristics, real estate market and spatial patterns of warehouses in different geographic contexts. 2021. (Congresso). 

  • 11th International Conference on City Logistics. EXPLORATORY ANALYSIS OF THE ACCESSIBILITY TO FOOD RETAILERS IN BELO HORIZONTE. 2019. (Congresso). 

  • 15th biannual NECTAR Conference. ACCESSIBILITY TO FOOD SYSTEMS IN BELO HORIZONTE, BRAZIL. 2019. (Congresso)12

Biannual Nectar Conference

Figura 2.6: Biannual Nectar Conference

  • 6th workshop NIUMAR. Projects under development and research agenda. 2019. (Seminário). 

  • 1st Brazilian EMI. 2018. (Seminário). 

  • 2nd workshop da NIUMAR. Desenvolvimento de pesquisa. 2018. (Seminário). 

    2o Workshop da NIUMAR

    Figura 2.7: 2o Workshop da NIUMAR

  • 3rd workshop NIUMAR. Perspectivas de parceria. 2018. (Seminário). 

  • 4th workshop NIUMAR. Encaminhamentos. 2018. (Seminário). 

  • Workshop do Cluster 2 do Nectar. A sustainable business model for urban farming based on city logistics concepts for local production and consumption of vegetables. 2018. (Seminário).

  • Efficiency in Urban Logistics: Current challenges, innovative & green solutions. 2017. (Seminário). 

  • Researchers Links Workshop: How the Railways contribute to improving quality of life?. Researchers Links Workshop. 2017. (Seminário)13

Researchers Links Workshop

Figura 2.8: Researchers Links Workshop

  • Semana Internacional de Engenharia Metroferroviária, Transportes e Logística. Análise espacial aplicada a soluções para o último quilômetro. 2017. (Seminário). 

  • Tenth International Conference on City Logistics. Urban Distribution of Craft-Brewed Beer in Belo Horizonte Metropolitan Area. 2017. (Congresso).

Em outubro de 2020 iniciei uma atividade de pesquisa em parceria com a Logistics City Chair, da Université Gustave Eiffel, por meio de uma oportunidade de Pós-doutorado remoto. O projeto foi intitulado Relationships among urban characteristics, real estate market and spatial patterns of warehouses in different geographic contexts. A duração dessa atividade foi de 5 meses, estando em fase de conclusão. Formalmente, essa foi uma pesquisa de pós-doutorado sob a orientação da Professora Dra. Laetitia Dablanc. Minha função como pesquisadora de pós-doutorado foi investigar as mudanças de localização dos armazéns em diferentes áreas metropolitanas e sua relação com a estrutura urbana e as práticas do mercado imobiliário.

Parafraseando Platão novamente…14

“Para produzir conhecimento, necessita-se de Eros” Renata

Meus caminhos como pesquisadora mudaram muito. Desde a ideia de que não nunca seria uma pesquisadora, até efetivamente encontrar prazer na investigação científica. em 2018, apesar de estar com algumas parcerias consolidadas e de começar a comunicação científica por meio de publicações em periódicos e anais de eventos, eu não estava feliz. Não estava feliz por não enxergar a minha contribuição para mudar o mundo15. Logística Urbana ainda é uma temática sobre a qual tenho desenvolvido trabalhos e pretendo seguir, mas quero discutir a circulação de mercadorias nas cidades como resultado da interação e das decisões humanas. Quero discutir não apenas como mitigar o impacto do transporte urbano de mercadorias sobre a cidade, mas também como o acesso equitativo a produtos essenciais, como alimentos, pode promover segurança alimentar, qualidade de vida e garantir a sustentabilidade do modo de vida urbano. Quero construir projetos que escancarem por evidências o abismo social e permitam a reflexão da academia, de gestores públicos e dos cidadãos.

Hoje consigo ver o que me faz feliz! Mas só consegui essa perspectiva da pesquisa como Eros na minha vida depois que encontrei algumas inspirações. Foi uma busca ativa16, mas dependeu da abertura da outra parte em me ouvir, em abrir espaço para minha participação e em estabelecer trocas. Vou fazer um relato muito aquém da importância dessas pessoas na minha vida, mas vamos lá!

Em 2018 fiz contato com a pesquisadora Camila Soares Henrique Fontanele Garcia, após ver seus trabalhos por meio das publicações. O que ela fazia era MUITO legal! Enviei uma mensagem pelo chat, despretensiosamente! Ela respondeu e marcamos uma conversa. Não sei se tem relação com as origens17 ou com a pessoa, mas fiquei ainda mais apaixonada com o que aquela moça fazia. Ela abriu a oportunidade de que eu participasse dos encontros da rede de pesquisa que estava construindo juntamente com outros pesquisadores de localidades distintas e, felizmente, o CEFET-MG enxergou a importância, fomentando minha participação em alguns eventos da NIUMAR - Network on Intelligente Urban Mobility and Accessibility Research18. Foi por meio dessa participação que descobri: (i) o que me motiva; (ii) quem eu quero ser (inspirações maravilhosas como pesquisadores e seres humanos); (iii) como gosto de trabalhar.

Nomeando brevemente essas pessoas, com o risco de deixar alguém de fora e já me desculpando 😬, agradeço os seguintes pesquisadores:

  • Carlos Felipe Grangeiro Loureiro

  • André Soares Lopes

  • Camila Bandeira Cavalcante

  • Francelino Franco Leite de Matos Sousa

  • Francisco Gildemir Ferreira da Silva

  • Bruno Vieira Bertoncini

  • E todos os demais pesquisadores da NIUMAR e de outros grupos que se esforçam para contribuir para um mundo melhor.

Agradeço ainda algumas parceiras que a vida acadêmica me trouxe, mas que têm se confirmado como excelentes amiges e companheires nessa busca por um mundo melhor:

  • Lílian dos Santos Fontes Pereira Bracarense

  • José Geraldo Vidal Vieira

  • Lucélia Viviane Vaz Raad

  • Ludmila de Vasconcelos Machado Guimarães

  • Joana Ancila Pessoa Forte Avelino

Fechando esse episódio da minha carreira, alguns eventos que materializaram o êxito em aspectos e momentos específicos. Recebi alguns prêmios ao longo da minha carreira:

  • Um dos 12 melhores artigos apresentados no PLURIS 2018 (Congresso Luso-Brasileiro para o Planejamento Urbano, Regional, Integrado e Sustentável), contemplado com a publicação na Revista Portuguesa de Estudos Regionais.

  • Melhor monografia do curso de Administração da turma de graduandos de 2005 da FUNCESI.

Como docente, recebi oito homenagens de alunos formandos dos cursos técnico em Transportes e Trânsito e Engenharia de Produção Civil do CEFET-MG, do curso de Administração da Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira - FUNCESI e do curso de Administração da Faculdade Novos Horizontes.

Hoje sou bolsista de produtividade 2 do CNPq, com muito orgulho! É um reconhecimento dessa jornada de muito trabalho até o presente momento e que espero que seja longa!

Algumas publicações relevantes com os trabalhos que já desenvolvi são: (da Silva, de Oliveira, and Marinov 2020a, 2020b; De Oliveira et al. 2016a, 2017a, 2019c, 2019a, 2016b, 2017b, 2019d, 2019b; de Oliveira, Garcia, and Pinto 2020; Furquim, Vieira, and Oliveira 2018; Guedes Furquim, Magalhães de Oliveira, and Vidal Vieira 2020; Guerin et al. 2021; L. K. de Oliveira, Santos, et al. 2017; L. K. de Oliveira, Morganti, et al. 2017; L. K. Oliveira et al. 2018; L. Oliveira et al. 2018; L. K. D. Oliveira et al. 2020; R. L. M. de Oliveira et al. 2021)


  1. Nem acredito nisso hoje! 🙃↩︎

  2. Deixo para vocês a brincadeira de “onde está Renata” na foto! 🤪↩︎

  3. Assuntos do coração têm um capítulo especial neste memorial, pois tiveram um papel importante na maior parte das escolhas profissionais e acadêmicas que fiz.↩︎

  4. Como mudei! Felizmente!↩︎

  5. No Episódio 3 apresento minha relação com essa linda instituição que é o CEFET-MG.↩︎

  6. Dizem por aí que ser mãe é ter o coração batendo fora do peito. Concordo plenamente!↩︎

  7. MUITO MUITO obrigada, mãe! Te amo! ❤️↩︎

  8. “Onde está a Renata? 🤭”↩︎

  9. Mais um “onde está a Renata?”↩︎

  10. Haja audácia! 🙃↩︎

  11. No episódio 4 apresento mais detalhadamente as minhas transformações.↩︎

  12. No ResearchGate!↩︎

  13. A cada dia que passa tenho mais certeza que nasci com muita latitude.↩︎

  14. www.niumar.org↩︎